As lembranças do Forte da Graça
Maria josé Rijo conta as suas Lembranças / Memórias do Forte da Graça
http://fortegraca.aiaradc.org/estorias-do-forte/
(( 1933 - 2015 = 82 anos ))
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Maria josé Rijo conta as suas Lembranças / Memórias do Forte da Graça
http://fortegraca.aiaradc.org/estorias-do-forte/
(( 1933 - 2015 = 82 anos ))
“ Se este esboço de monografia conseguir o fim patriótico a que se destina – o de o vulgarizar a alta importância da nossa primeira obra de fortificação militar e o esforço titânico dos homens que a construíram – o autor dá-se plenamente por satisfeito”
Forte da Graça, 18 de Abril de 1929.
Excerto da introdução de Domingos Lavadinho ao seu livro “O Forte da Graça Esboço de uma Memória Histórica e Descritiva”.
Citando, Aires Varela, conta Domingos Lavadinho, no seu livro – “O Forte da Graça Esboço de Uma Memória Histórica e Descritiva” – que foi a bisavó de Vasco da Gama, Catarina Mendes, quando já viúva de Estêvão Vaz da Gama com quem contraíra matrimónio aí por 1.380 – quem promoveu a reedição duma ermida abandonada, que fora parte do Convento de S. Domingos da Serra, e, nela fez colocar uma imagem de Nossa Senhora da Graça.
Essa imagem, por milagrosa, deu seu nome ao monte, antes chamado de S. Domingos, à ermida e posteriormente por Santa Maria da Graça se designou também o forte em torno dela construído sob a traça do Conde de Lippe na segunda metade do séc. XVIII.
- Nestes tempos. Nestes nossos tempos em que com palavras empoladas tanto se fala na glória dos descobrimentos, enraizamentos históricos e mais floreados de retórica – bonitos de dizer – para dar ares e pose…
- Nestes tempos, apetece perguntar onde pára a consciência do que tão emproadamente se apregoa e a coerência entre a atitude e a palavra de compromisso que tão ligeiramente se esquece…
É que o divórcio entre ambas reduz tudo à cotação de pechisbeque e a eloquência a palavreado de banha da cobra enganosa e aviltante.
quando o estado resolve alienar património sem se dar ao cuidado – sequer – de auscultar a cidade que o comporta e a que ele dá carácter…
- Como se sente o País?...
- Como se sente a cidade lesada e agredida?
Os governos passam, mas os efeitos de decisões destas são irreparáveis e permanecem…
Espera-se dos governos que sirvam os povos.
Não é imaginável que os espoliem e envergonhem.
Enquadrando estes problemas entre outros da nossa vida actual, somos levados a reconhecer que decisões como esta, que desrespeitam a história e patenteiam falta de coragem para recuperar património, falta de criatividade, falta de sentido de responsabilidade na defesa de valores pátrios…
(Talvez esta expressão agora seja subversiva ou pejorativa…)
Eu uso-a como “in illo tempore” a aprendi repassada de emoção…
Mas, dizia eu, decisões como esta são a causa primeira de muitas outras coisas que se deploraram.
- Quando vêm de cima os exemplos de falta de devoção por valores herdados…
- Quando vem de cima a negação de idiais e princípios que estão no fundamento de ideias e sonhos…
- Que espaço se deixa aos novos, que caminhos se lhes abrem, que horizontes de vida se lhes oferecem?...
- Se nada há que valha a pena honrar, respeitar, salvar, conversar a solução “luminosa” proposta é arranjar dinheiro quanto mais fácil, melhor, seja lá à custa do que quer que seja…
- Como estranhar depois a frustração, o desencanto que levam à droga e à marginalidade as gerações para quem somos referência?!
Olhando e sofrendo a leviandade de tão presunçosas soluções…
Olhando e sofrendo com o estado deplorável a que chegou um monumento ímpar que, há meia dúzia de anos – frente à impotência da cidade – deixaram os “auto-proclamados donos” degredar…
Olhando e sofrendo a dor de uma cidade submissa frente à arrogância de posse expressa pelas placas (Património do Estado) que tornam intocáveis imóveis, preciosos, que se foram arruinando e que teriam – sem grandes gastos – se aproveitados a tempo, resolvido problemas de falta de espaço que sufocaram rasgos de progresso que, assim, a Elvas foram negados…
- Olhando e sofrendo a afronta de à cidade não terem sido restituídos esses bens que sendo do estado – são património do povo e, neste caso, dos elvenses e que terminada a sua serventia militar deveriam de imediato abrigar outros serviços de interesse público…
… Sabendo todos e qualquer um de nós que edifício abandonado é edifício condenado à morte … É lícito concluir (excluído, claro, a hipótese de irresponsabilidade de quem decide) que esta não é uma situação de acaso mas, sim, o resultado lógico de um maquiavélico projecto…
Mandar, decidir… é antes de mais assumir a obrigação de prever, planear…
- Pensando em tudo isto e no desembaraço estranhamente singular, como tudo se despreza, e pisa e atropela de forma tão simplista – julgo ver o nosso país como quem vê o Paco da anedota dos pistoleiros:
- “Como te chamas?
- Paco,
- Te llamavas!”
Depois, terminada a proeza o “herói” afasta-se, impune, assoprar os canos da arma que volteia no dedo metido ainda no gatilho e encaixa de novo no coldre.
- Pois é!
- Com tiros tão certeiros, daqui a pouco…
- Só mais um pouco…
- Portugal – era!
NOTA:
Ainda hoje não percebo porque o retrato de “Vítor Manuel” que fora oferecido a “Lanceiros I” foi parar a Estremoz!
Porque não herdou o Museu de Elvas um documento iconográfico tão valioso que era legitimamente seu?!!
Extinguiram… extinguiram… até ao pormenor dos documentos históricos…
Já há anos, falei nisto, neste jornal.
Maria José Rijo
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Jornal Linhas de Elvas
Nº 2.254 – 24 de Junho de 1994
Conversas Soltas
«Sua Majestade, conservando-se a cavalo, dignou-se ouvir atentamente a mesma alocução à qual teve a bondade de responder em breves termos com aquela alta e eloquente benevolência que brilha em todos os seus régios actos e discursos; dizendo em resumo – que o ex.mo governador deveria conservar em seu poder as mesmas chaves em prova de confiança quando aquele cargo lhe foi confiado.»
Maria José Rijo
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O forte é construído por um quadrado de 150m. de lado, tendo no centro um reduto circular com três ordens de baterias acasamatadas. «O forte declive das esplanadas, a grande altura da muralha do revestimento da escarpa e contra-escarpa, as galerias seteiradas concorrem para preservar o forte de qualquer ataque imprevisto» (para mais pormenores, cf. Rodrigues de Gusmão,in O Elvense, nºs 37 e 38, 1881)
D. JOSÉ I, AUGUSTO INVICTO, PIO, PARA IMPEDIR A ENTRADA DOS INIMIGOS NA PROVÍNCIA, SOB A DIRECÇÃO DE GUILHERME CONDE DE LIPPE, MARECHAL-GENERAL DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, E DE SEBASTIÂO JOSÉ DE CARVALHO E MELO, PRIMEIRO CONSELHEIRO E MINISTRO, FUNDOU ESTE FORTE E O MUNINCIOU COMPLETAMENTE, ANO DE 1776
Trinité Rosa situou acontecimentos e decisões com o rigor matemático do militar. (X )
Amílcar Morgado relatou com a sabedoria factos que interpretou à luz da história. ( XII )
Hoje, de João Falcato – Escritor e Jornalista – uma visão pessoalíssima (poética diria eu) extraída do seu livro “Roteiro de Amor” editado em Elvas em 1934 com crónicas publicadas neste jornal
Sentinela das Alturas
Outra virtude que não tenha aquela construção imensa tem ela a de não ser possível levantarem-se na sua direcção os olhos, sem que ao espírito nos acuda uma evocação de grandeza e de entranhado amor à nossa terra.
Depois, surge sempre o Forte da Graça, naturalmente, como pano de fundo para as lições do valor destas terras e do heroísmo das suas gentes. Aqui, mais do que em nenhum outro lugar é impossível não ensinar história. O que noutra qualquer parte será feito só por referência, liga-se nesta cidade a centenas de pedras, a um sem número. Da dissertação pura resulta sempre um panorama histórico incompleto, donde, lição proveitosa aqui só aquela que tem por fundo uma pedra, por cenário o cenário da própria história.
Nesta sequência de ideias, agarrámos, num destes dias, um punhado dos nossos alunos e galgámos aquele monte onde se ergue o Forte da Graça ou o Forte de Nossa Senhora da Graça.
Era um dia de sol radioso, e o horizonte alargava-se límpido, de modo mesmo que, antes de entrar a porta do Forte, já os nossos olhos estremavam bem o que é nosso e o que é alheio.
Uma vez ali, quando transpomos a ponte levadiça da fortaleza, abstraindo mesmo de conhecimentos históricos, é impossível não imaginar pavorosos quadros de assédio pertinaz ou angústias de espera atenta, com uma população faminta por detrás da sua guarnição salpicada aqui e ali por decisões brilhantes, até vir enfim o raiar de um dia de tranquilidade.
Mas, por mais que a sugestão do cenário nos chame, com os seus baluartes, as suas escarpas, as suas seteiras, os seus fogos cruzados, a um mundo de lendários heroísmos guerreiros, mesmo involuntariamente caímos num hino. Não a esses heróis que pela sua fama acodem sempre primeiro à memoria, mas àquele pequenino herói sempre esquecido que sacrificou a paz na sua casa, e até a própria, vida, para que moles imensas como a desta fortaleza se erguessem para o bem estar e sossego dos vindouros: todas aquelas pedras da primeira à última foram erguidas pelo trabalhador alentejano.
Ó pedras morenas do Forte da Graça, carregadas em braços rudes dos rurais alentejanos, argamassadas com o suor que, durante meses, faltou ao labor das suas terras! Ó fossos do Forte da Graça, covas fundas em que os homens duma geração enterraram a saudade funda dos seus e do labor dos seus campos! Por vós, pedras inúteis, por vós, fossos vazios de combates e de heroísmos, ficaram as herdades sem ganhões, e a terra bendita sem a mão augusta do semeador!
E, um ano, outro ano, e muitos anos, levas de milhares de homens foram roubados aos campos para que tu, ó Forte da Graça, te elevasses na inutilidade da tua grandeza. Cresceu a erva nas searas, comeu o cizirão, o trigo, caíram sem braços que os colhessem os frutos das árvores, ressequiu-se e tornou-se estéril toda a úbere terra alentejana, para que as tuas pedras a que o destino roubou a gloria rubra das batalhas, se erguessem altaneiras, com a altivez da espera frustrada.
Depois, século em século, jungiu o destino a ti o labéu duma má origem, mais poderoso do que o património propósito de entregar às tuas muralhas a defesa destas terras foi o clamor dos milhares de homens vergados ao peso das tuas pedras, foi a tristeza dos milhares de homens, que, privados da sua pátria por não terem a coragem de se vergarem ao peso das tuas pedras, foram comer o pão do exílio.
Suor e sangue alentejano foram a argamassa em que os teus muros se ergueram, e, por irisão desse destino, nunca a ti foi dado, ó Forte inútil, presenciar as cenas heróicas para que te destinaram. Em vez de sangue de batalhas, sangue de trabalhador, em vez de sentinela altaneira da defesa da Pátria, presídio militar. Nas tuas muralhas, nos teus baluartes, em vez de heróis, soldados prevaricadores.
Roubou-te o destino a glória, roubaram-te os homens a dignidade. Quem a ferro mata, a ferro morre. Também tu tinhas roubado ó Forte da Graça, os homens à sua terra, os corações ao seu lar.
Triste destino na verdade o teu, Forte da Graça. Serás sempre como os monstros doutras eras que não conseguem meter-nos medo porque são fósseis, que não nos infundem respeito porque não souberam morrer com o seu tempo.
Dum modo geral, tentar dar utilidade a qualquer obra ciclópica em desacordo com os tempos, é obra vã. Só um recurso há. Pedir-se a essas construções que sejam apenas um documento do seu tempo, para que nós as possamos ver com emotivo interesse histórico mas com despreocupada visão de qualquer problema actual. Nas muralhas do Forte da Graça só uma coisa ficava bem: os canhões que as guarneceram na espera do perigo que as circunstancias quiseram que fosse vã, mas que foi espera de amor por uma Pátria estremecida e ameaçada. É bem agradável ver à entrada da sua ponte levadiça rostos amigos a receber-nos mas na realidade só se justificaria aí um cicerone que soubesse simultaneamente elucidar quem lá fosse e afastar-se quando os olhos do visitante se embebessem pelo campo fora.
Enquanto assim não for, pesará sobre a consciência dos homens a dor do teu amesquinhamento, Forte da Graça, forte sem combates, forte inútil. Forte, que das tuas alturas miras sobranceiro os campos alentejanos, vão é o teu orgulho. Esses campos, porque se estende a vista de quem sobe aos teus cimos, já uma primavera e outras primaveras ficaram secos, já um estio e outros estios ficaram sem fruto, sacrificados à vanidade da tua construção que só serviu para esse sacrifício.
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Jornal Linhas de Elvas
Nº 2.276 – 2 / Dez./ 1994
Conversas Soltas
“Quando o rei D.José expirou, a 23 de Fevereiro de 1777, e o governo foi confiado ao marquês de Angeja e à Igreja, tive, dentro em breve, ocasião de me convencer do meu erro; porque até então o estado desprezível em que se encontrava o exército não provinha senão da indiferença e do desleixo (causas suficientes para destruir um exercito em pouco tempo), mas agora o governo, como se não estivesse ainda satisfeito com tão desgraçada condição, parece apostado em a aumentar desonrando o próprio ser e existência do soldado. Parece que resolveram então desfazer-se o mais depressa possível dos oficiais estrangeiros. A rainha, por erradas noções de compaixão, soltou, indistintamente, todos os malfeitores dos regimentos, que o Marquês de Pombal deixava morrer de fome nas prisões, onde estavam encerrados por sentenças dos tribunais
militares; e a todos perdoando, fê-los reingressar nos corpos a que pertenciam ou mandou-os servir para fora do reino; e este procedimento abominável não é nada em comparação com a protecção concedida pelo ministro aos dois indignos oficiais do meu regimento, ainda suspensos, o major e o quartel-mestre, que o governo desta cidade, por ordem do secretário da guerra, em nome da rainha, pôs em liberdade, como tendo sido injustamente castigados pelo seu coronel, o qual nunca fizera nenhum relatório sobre o seu caso, nem dera o mínimo motivo da sua detenção. E podereis observar que a fim de encontrar um pretexto para reforçar o caso, e subir no conceito da sua soberana, o secretário da guerra recorreu à mais estupenda falsidade: em todas as estatísticas mensais, durante os anos anteriores, foi regularmente mencionada a clausura destes dois homens, assim como a sua causa, que toda a gente conhecia por informações várias. Assim eu soube, pela minha parte, que o que os dois traidores referiam nas suas cartas, relativamente à protecção que recebiam do marquês de Angeja, era verdade”.
Jornal Linhas de Elvas
Nº 2.273 – 11-Nov. – 1994
Conversas Soltas
Mas... continuemos com os antigos de F.A Rodrigues Gusmão.
Visitou o Forte de Lippe o celebre Maturana, brigadeiro espanhol, chefe do corpo de engenheiros em Sevilha, considerado pelos seus compatriotas como um oficial distintíssimo.
“ Achava-se em Badajoz, no fim do ano de 1808, quando os franceses evacuaram o Forte de Lippe. Aproveitou o ensejo de ver aquela fortaleza, que excitou sempre a curiosidade e o ciúme dos nossos vizinhos, e cuja entrada, fora até essa epocha vedada a todos os estrangeiros, que não estivessem ao serviço de Portugal.
Parou embevecido na contemplação d’este soberbo monumento; causou-lhe tamanha admiração esta obra-prima da arquitectura militar (quase que também se pode dizer obra-prima de arquitectura civil pela beleza da casa do governador), que o achou muito próprio para n’elle se estabelecer uma escola, onde os jovens engenheiros, depois de imbuídos nos conhecimentos teóricos, viessem adquirir os práticos; por se achar alli reunido tudo quanto havia de mais notável em fortificação, e até muitas obras, que não eram conhecidas em sistema algum, e que concorriam para que reputasse quase inconquistável. (17)
Folgaríamos, que fosse, adoptado o alvitre do sábio general; se fosse, não augmentariam, por ventura, as ruínas de algumas dependências do Forte de Lippe, que já eram grandes quando o visitamos. Afirmou-nos pessoa competente, que os reparos já então indispensáveis importavam em algumas dezenas de contos de réis”
(17) Jornal de Coimbra, num, 33, pág.149.
Manuel Ignácio Martins Pamplona Corte Real, governador, por Napoleão I, da cidade de Polótzk, mais tarde conde de Subserra ministro d’estado em Portugal, gentil-homem da câmara d’El-rei o senhor D.JoãoVI, grã-cruz, comendador e cavalleiro de diversas ordens nacionais e estrangeiras, morreu de tribulações a doença nas prisões do Forte de Lippe em Elvas, no dia 16 de Outubro de 1832.
Curiosa a ideia de uma escola no Forte – aventada em 1808.
E, porque não um pólo universitário!
Hoje! - Agora!
Quem sabe?!?
Talvez aquela estrela caída, lá no alto, morta e fria como meteorite, pudesse reganhar o brilho que lhe foi predestinado quando nasceu.
Maria José Rijo
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Jornal linhas de Elvas
Nº 2.272 – 4 – Nov. 1994
Conversas Soltas
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